giovedì, giugno 15, 2006

Entre quatro paredes com Dostoievski





















Leituras imprescindíveis. É assim que me remeto aos livros, fragmentos, estrofes, poemas elementares para o meu processo de reflexão-fragmentada. Contudo, alguns textos provocam rupturas ou processos ainda não tão compreensíveis em quase 1/4 de século de sobrevivência, entre frustrações, ausências e nós.
Dificilmente confesso o precursor de meu interesse sobre a psiquê humana. Aos 14 anos, li, pela primeira vez, "Crime e Castigo" de Fiodor Dostoievski. Este foi o momento em que deparei-me com a possibilidade de ultrapassar o plano das simples dicotomias de "certo" ou "errado", do que me parecia real ou sobre o que seria produto de meus longos e conturbados diálogos entre meus "eus" ignorados.
Naquele momento, nada sabia (e pouco sei, é bem verdade) sobre a psicanálise freudiana ou do discurso em Lacan. Ainda era uma estudante do ginásio, mas num universo sempre confrontado sobre os padrões de "bondade" e "vilania", identifiquei-me com o controvertido Raskolnikov.
Pesadelos, alucinações,neblina, ratos, fome, livros, morte associavam-se de tal maneira com a minha antiga ( e contemporânea) capacidade de teatralizar, dramatizar todos os aspectos de minha vida cotidiana.
Crime e Castigo trouxe à tona meus sentimentos e pensamentos escondidos sob uma superfície de moral e conceitos que me foram ensinados. Melhor dizendo, nos quais estava sendo adestrada. A sordidez e umidade dos becos de uma São Petersburgo onde crianças brincavam em meio à fome e sob gritos de mães desesperadas. Moças, mulheres e senhoras disputavam os poucos clientes bêbados e moribundos.
Soniêtcka e Raskolnikov: a tragédia da impossibilidade? É bem provável que eu já tenha lido umas 06 vezes as mais de 500 páginas de Crime e Castigo.
É certo que todas estas leituras possuem uma carga emotiva tão desgastante, mas com profundos momentos dos mais inebriantes orgasmos, aqueles introspectivos, solitários, reflexivos.
Penso como algo libertador o colapso do protagonista: a Sibéria não é um castigo, o crime não é um suposto assassinato. Suposto, porque me questiono sobre a essência do assassinato, ou sobre a existência do mesmo. Não seria este o castigo? Não seria uma peça pregada ou forjada pelo seu inconsciente?
Ainda não tenho respostas, nem as quero, tampouco as procuro.
Reflito sobre tais questões há aproxidamente 11 anos,
meu ciclo raskolnikoviano que não se fecha,
ainda bem.

1 commento:

Anonimo ha detto...

Olá

Gostei do comentário pulsante. Chego a imaginar a força dessa obra controversa e da amplitude alcançada e oferecida pela alta cultura penetrando na mente adolescente que não encontrava ressonância nos valores perpetados à sua volta, mas queria se fazer falar. A opção de negligenciar o pequeno mundinho do consenso estava feita. Depois, a leitura vai ficando mais densa, adulta e profunda, com efeitos profundos que somente um clássico pode alcançar. Beijos