
Uma virose pode ser bastante interessante para amadurecer algumas questões a partir de representações aparentemente simples. Há alguns meses me recomendaram assistir "Sex and the City", um seriado estadunidense, onde retratava-se o cotidiano de quatro mulheres em Nova Iorque- note-se que todas de padrão social nada comum aos das mulheres estadunidenses - a parti do relato das personagens, a colunista Carrie Bradshaw.
Uma marchand, uma advogada, uma relações públicas e uma jornalista que nada conhecem além dos cafés e badaladas boutiques da ilha de Manhatan.
Algumas companheiras que se auto-reivindicam baluartes do movimento feminista me diziam que um seriado sobre as aventuras sexuais de um quarteto de representações caricaturais significaria um avanço, posto que o seriado punha em "discussão" as crises e angústias de mulheres balzaquianas.
Em três dias, assisti três temporadas completas; o que corresponderiama a aproximadamente cinquenta episódios de trinta minutos. Poderia parecer progressivo a abordagem de temáticas como sexo, independência financeira, reconhecimento profissional, entre outros, se não houvesse a mera reprodução de preconceitos e caricaturas aviltantes que não contribuem em nada para o que se propõe quando se discute a temática da emancipação da mulher.
Não duvido que existam mulheres que interpretem como progressivo: mulheres que reproduzem em suas relações a descartibilidade dos parceiros, o mito do amor romântico, a suposição de que, em última instância, as mulheres, apesar de todas as suas "excentricidades", buscam o matrimônio, ou oprimir os homens, ou comprar sapatos de quatrocentos dólares, mas nunca ter o dinheiro para o táxi.
Entre tudo isso, as protagonistas reúnem-se apenas para discutir sobre homens e sexo, ou até mesmo para debates calorosos sobre Versace, Gucci ou Dolce & Gabbana.
É incrível que em mais de três, quatro anos de seriado nunca se tenha tocado em alguma medida política, social ou econômica que atingissem tais mulheres ou sobre qualquer outra temática que permeasse os lares das milhões de telespectadoras do seriado. Afinal, Nova Iorque não é o lugar onde tudo acontece?
Eu não me surpreendo, porque a despeito de ouvir um personagem polemizar sobre o orgasmo feminino, o que se vê é tão somente um festival de tendências, arquétipos estéticos e padrões de comportamento que nada questionam a condição feminina na sociedade contemporânea.
Alguns mais ardorosos defensores de "Sex an the City" e de seu feminismo de ocasião diram que o seriado é uma comédia (e é mesmo), ou como os estadunidenses dizem: é um show, um bálsamo para o angustiado estadunidense médio.
Sarah Jessica Parker ( Carrie Bradshaw) protagoniza uma série de campanhas publicitárias: perfumes, vestuário, e, é claro, sapatos, já que Carrie "ameniza" suas crises emocionais ou frustrações profissionais comprando sapatos e lendo os editoriais da Elle, Vogue.
O que há de revolucionário em "Sex and the City"? O que tornou este seriado tão popular entre as mulheres?
Eu vos digo que tais séries, assim como outros produtos da mídia burguesa, nada mais representam que aparelhos ideológicos de repressão e difusão de uma tradição conservadora que apenas inova nos meios de fortalecer velhos paradigmas para a manutenção da opressão da mulher sob formas aparentemente inovadoras e garantir consumidores arguindo que podem ser tão cativantes e potencialmente arrasadores se adaptarem seus anseios, medos e projetos à idéia que, a despeito de todas as demonstrações de que são aguerridas, sucumbem à concepção de que somos seres frágeis e carentes de uma relação super protetora, onde homens como "Mr Big" podem dispor da Carrie's ou similares ao seu bel prazer, porque no discurso implícito de "Sex and the City", não importa o quão imbuída de situações humilhantes e potencialmente sexistas uma mulher pode se submeter, pois o amor e a estabilidade, ou para outros personagens, o sexo sem fronteiras (diga-se de passagem que só existem fronteiras e máscaras) são o Pantheon idealizado pelas mulheres.
2 commenti:
Bla Bla Bla. O mesmo papo cabeça de sempre, mas num estilo muito melhor. Entretanto inútil para qualquer transformação.... Assim é Rosa, substituiu a clsse pelo partido e a militante pela cinèfila. Em outras palavras uma coleçaõ de substitutismo....
Uau... o máximo da criticidade no comentário acima... e o indivíduo é tão dono de si que nem assinou... não se sente à vontade para se identificar, de tanto orgulho que sente da sua postura...
O indivíduo deveria inclusive, dizer qual seria o caminho para a tal transformação, e, com certeza, baseando-se numa prática e não apenas em achismos sem nexo por favor...
Embora não concorde com tudo que a Bambola escreveu... acredito que é EXPONDO (o que infelizmente, quem não se propõe a fazer criticou) que se transforma também, pois a teoria e a prática podem, certamente, aliar-se de maneira satisfatória.
Bjos...!
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